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Risco de casos de violência infantil é maior em famílias reconstruídas.

O risco de casos de violência infantil em ambiente familiar é mais frequente em famílias reconstruídas do que em famílias nucleares, conclui um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), hoje (19.01.09) divulgado.

Segundo o estudo, que abrangeu uma amostra de 100 crianças e jovens até aos 16 anos, oriundas da região Centro e diagnosticadas no Instituto de Medicina Legal de Coimbra, o agressor “tende a ser do sexo masculino” e a forma de violência mais praticada é de natureza sexual.

 

“A explicação mais plausível para a maior ocorrência de maus-tratos sobre as crianças em famílias reconstruídas, parece residir num efeito colateral, relacionado com a ausência de laços de vinculação estabelecidos desde o nascimento”, sustentou o antropólogo Paulo Gama Mota, um dos autores da investigação.

 

No entanto, sublinha, o risco acrescido de maus tratos em famílias reconstruídas, “possivelmente pela ausência de vinculação biológica de um dos adultos”, não impede o desenvolvimento de afectos nessas condições.

 

“Apenas que o risco é maior de que não se desenvolva”, explicou o investigador.

 

Os dados hoje divulgados apontam para uma predominância (67 por cento) de maus-tratos dirigidos a raparigas, mais frequentes no grupo etário dos 10 aos 16 anos, 62 por cento do total, seguindo-se o grupo dos 6 aos 9 anos, com 21 por cento.

 

Os maus tratos mais frequentes, para além do abuso sexual, englobam fracturas, queimaduras, rejeição e abandono.

 

Os investigadores do Departamento de Antropologia da FCTUC lamentam as condicionantes a que o estudo foi sujeito, nomeadamente a “impossibilidade” de recolha de dados junto das comissões de protecção de menores.

 

“A natureza confidencial dos processos e, em particular, a burocracia no acesso aos dados, incluindo as limitações de recursos humanos, impediram a obtenção de quaisquer dados junto dessas instituições”, frisou Paulo Gama Mota.

 

Ouvido pela agência Lusa, o também responsável pelo Museu da Ciência da FCTUC manifestou-se consciente da possibilidade da amostra “estar enviesada relativamente à realidade”, nomeadamente por não incluir dados de crianças em idades precoces nem casos de mortalidade que "se sabe que acontecem”.

 

Apesar das dificuldades no acesso à informação pretendida, Paulo Gama Mota não se mostra surpreendido pelos resultados do estudo, com excepção destes demonstrarem que a violência familiar ocorre em famílias de todos os níveis sócio-económicos.

 

“Ocorre em todos os níveis de educação das pessoas, o que é dramático. Imaginava que acontecesse, sim, em situações de vida mais difícil e onde não houvesse educação e formação”, argumentou.

 

O estudo, denominado “Cinderela: do conto de fadas à realidade. Perspectiva sobre os maus-tratos infantis”, incidiu sobre quatro domínios para contextualizar e caracterizar os maus tratos, incluindo o grupo doméstico da criança e seu perfil.

 

Os restantes domínios analisados versaram sobre a gravidade do mau trato praticado e o perfil do agressor.

 

Fonte: Destak/Lusa

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